quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Japinha

Era um cara normal. Nem alto nem baixo. Nem gordo nem magro. Não era feio, mas bonito também já era um grande elogio. Tinha amigos e amigas, irmão, pai, mãe, cachorro e periquito. Não era tímido. Alias, passava longe. Era conhecido por falar com todos (conhecidos ou não). Puxava conversa em fila de banco, do caixa da cantina, do cinema, da pessoa que sentasse ao lado dele nos ônibus. Dizia o que viesse na cabeça na lata, sem dó. E apesar disso era bem simpático e gentil. Sempre extrovertido. Até o dia em que viu a japinha. Menina linda, longos cabelos negros e um sorriso, que junto com seus olhinhos puxados, conseguia deixar o ar ao redor dele pesado. Caloura de medicina. Dava pra ver pela camiseta que ela usava. Começou a investigar a moça. Se inteirou com a galera, mas de um jeito dissimulado, tentando não levantar suspeitas, pensando bem no que ia falar. Descobriu o nome dela, mas quando pensava nela era sempre "minha japinha". Aprendeu os horários dela. Sempre se encontravam no pátio do biociências nas segundas e sextas, no intervalo entre a 4ª e 5ª aula. Tentou uma vez ir falar com ela... aproximou-se, disse um "oi" mirrado e começou a conversar com a pessoa ao lado dela, que por acaso estava segurando um livro que ele ja tinha lido. Falou o tempo todo sobre o livro sem ao menos conseguir olhar pra japinha. Foi embora frustrado. Os amigos mais próximos começaram a notar que sempre ficava agitado antes dos intervalos na segunda e sexta. E durante o intervalo ficava distraído nas conversas, olhando ao redor. Sempre que a via mudava completamente. Ficava calado e parecia sempre nervoso. Uma vez estava andando pelo campus com uma amiga quando a japinha sai de uma sala de aula de repente e ao vê-lo, manda-lhe um 'tchau'. Quase teve um infarte. O coração acelerou e ele precisou parar um pouco. Quando ia retribuir o 'tchau' a sua amiga ao lado diz alto: "eiii, matando aula é? Ainda estamos longe do intervalo!!" No que a japinha responde: "naaada... saíndo de uma prova. Vou indo agora. Marquei de me encontrar com meu namorado. Tchau." E em menos de um minuto ele voou e caiu feio... Tentou não ficar muito triste. Devia ter imaginado que ela tinha namorado. Tratou de tentar esquece-la. Aquela que mal sabia da sua existência e que era a única que tinha feito ele tímido. A fila andou... mas toda segunda e sexta ele sempre procurava 'sua japinha' pelo pátio e admirava aquele sorriso.

4 comentários:

Bárbara Lemos disse...

Amores platônicos são doídos. Aliás, esquecer não lá uma qualidade minha. Fico me perguntando o quanto desse texto é verídico.

Ah, minha tatuagem tem escrito "Je suis un morceau d'utopie". Que bom que está aprendendo francês, é uma língua linda.
Te linkei de volta lá no Devaneios.


Beijo meu.

Bárbara Lemos disse...

Acho que já passei da fase dos amores platônicos. Gosto dos vividos e, principalmente, retribuídos na mesma intensidade, de preferência.

Beijo meu.

Critical Watcher disse...

Bom carnaval pra você também. Ah, eu acho excelente observar. Consigo me contentar com isso. Sabia que a observação do real vale muito mais que mil palavras? E observar não resume-se a olhar. Existem muitas coisas por trás disso, desde uma análise com um cafezinho ao lado a uma leitura de um bom livro.

Tudo de bom, rapaz.
Boas festas e que seus acompanhantes lhe agraciem...

Abraço!

Proibida disse...

Japinha, né? Hum... tô ligada! =D

Pois num é que você foi quem acabou me fazendo voltar ao seu blog?!? hahahaha Hoje eu notei que virei um de seus favoritos, quem sabe tenha voltado pra ler algo por lá... ^^

Bom carnaval, moço! Ah! E obrigado pelo favoritismo! ;)